Entre memória, afetividade e caminhos para o futuro
Com o objetivo de promover estudos e pesquisas na área de Educação Ambiental e Sustentabilidade, buscando formular contribuições acadêmicas para a construção de novas bases para a realização de propostas educacionais que promovam o desenvolvimento humano, o GEAM foi instituído em abril de 1998.
Para celebrar 20 anos de caminhada e ações de Ensino, Pesquisa e Extensão, aconteceu entre os dias 25 e 27 de abril, no auditório do Instituto de Ciências Jurídicas e no Centro de Convenções Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará, o Colóquio do Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente, com o tema “20 Anos de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Ambiental por entre os Rios, Florestas, Estradas, Portos e Cidades: Trilhas e Perspectivas”.
Dia 25 – A mesa de abertura foi iniciada às 10h, com as professoras doutoras Marilena Loureiro, Maria Ludetana Araújo, Janae Gonçalves e Eliana Felipe e os professores doutores Carlos Edilson Maneschy e Nelson de Souza. "O Colóquio é um evento especial, pois marca a nossa trajetória de 20 anos, e, além disso, repassa as nossas práticas e o espírito que reside em nossas ações, que começaram a ser construídas antes de 20 anos atrás e que vão continuar para sempre, porque é nisso que a gente acredita, numa educação para além dos nossos muros e formalismos. A Educação Ambiental que nós tentamos ajudar a construir ao longo desse tempo foi a partir de relações com base de amorosidade, pensando que não é possível construir uma política de conhecimento sem que ela se relacione com a solidariedade. É para isso que nós fazemos ciência", explicou Marilena Loureiro, coordenadora do GEAM.
Às 11h, o professor doutor Marcos Reigota, da Universidade de Sorocaba (UNISO), discutiu sobre pesquisa e pós-graduação em Educação Ambiental no Brasil e na Europa: Redes de construção de saberes. "No Brasil, a primeira vez que eu ouvi falar de Educação Ambiental foi no final da década de 70, quando nós ainda estávamos vivendo o regime ditatorial civil e militar. Nessa época, surgiram os novos movimentos sociais e entre eles estava o movimento ecologista. Uma das referências básicas nas movimentações era o Paulo Freire, que fazia críticas contundentes a respeito da educação", lembrou. Na Europa, Paulo Freire também sempre teve muita influência. De acordo com Marcos, a Educação Ambiental fora do Brasil foca na mudança de comportamento da sociedade, envolvida com a redemocratização e com a naturalização da produção de conhecimento.
No começo da tarde, os pesquisadores Nicolau Rickmann Neto, Janise Viana, Dayse Costa e Rosemildo Lima falaram sobre suas experiências como coordenadores adjuntos de pós-graduações vinculadas ao GEAM. Trabalhando nas atividades da Especialização em Pobreza e Desenvolvimento Social, Rosemildo explicou o curso, tratou das relações entre Educação Ambiental, Pobreza e Desigualdade Social e teve como objetivo promover reflexões e discursos sobre as vivências dos sujeitos em circunstâncias de pobreza e extrema pobreza.
Em seguida teve início a mesa “Trajetórias de Pesquisa, Ensino e Extensão do GEAM: Caminhos e Perspectivas”, com a presença das pesquisadoras Marilena Loureiro, Maria Ludetana Araújo, Ana Lídia Nascimento e Soeli Lemoine. Para Marilena, fazer educação implica no exercício de sinceridade, “temos que estar preocupados com o que a gente está fazendo, tem que haver respeito e solidariedade, no sentido de preocupação e efetivação da vida”.
Dia 26 – “20 anos de Educação Ambiental por entre escolas nas cidades, rios e florestas – Resultados de pesquisa e pós-graduação" foi o assunto do primeiro painel do evento, que começou às 9h e teve o professor doutor Gilmar Pereira como debatedor e a presença dos seguintes professores mestres: Pedro Baía, com o trabalho "Comércio de Fauna Silvestre em Abaetetuba – PA"; Wesley Ketler, que relacionou História e Educação Ambiental nas escolas de Ananindeua – PA; Elana Almeida, analisando ações socioeducativas voltadas a Educação Ambiental nos diferentes cenários da Amazônia Paraense, através das contribuições da Conferência Infanto Juvenil para o Meio Ambiente (CIJMA); Maria do Rosário, que realizou um estudo de caso em uma escola da Amazônia, relacionando Educação Ambiental e políticas públicas; Aline Furtado, que discutiu sobre educação, pobreza e desigualdades sociais na Amazônia Paraense, através de um estudo do Programa Social Bolsa Família em Melgaço, na Ilha do Marajó; e Cilane Melo, com a pesquisa "Formação continuada de professores em Educação Ambiental: O curso de extensão em Educação Ambiental, escolas sustentáveis e Com-Vida no município de Capitão Poço”.
A conferência "A dimensão ambiental na educação – 20 anos depois", ministrada pelo professor doutor Mauro Guimarães, iniciou às 11h. "Os problemas, que antigamente pareciam tão distantes, passaram a fazer parte do nosso cotidiano: mudanças climáticas, degradação das condições ambientais da biosfera, risco de extinção, etc. Estamos vivendo uma crise social, ambiental, econômica, ética, de pensamento e de sentimento. Somos uma sociedade da tecnologia e vivemos em um mundo da modernidade, no qual a produção de riqueza se dá por meio de relações de dominação e exploração da natureza." discutiu o professor. Segundo Mauro, nos últimos 20 anos, a Educação Ambiental contribuiu com a ampliação da percepção da crise e também trouxe uma nova forma de olhar o mundo, que tenta romper a modernidade. "Podemos notar que o GEAM é um movimento bastante significativo nessa luta, com resultados reconhecidos em qualquer lugar", concluiu.
Em seguida, às 14h, o painel "20 anos de Educação Ambiental por entre escolas nos rios, florestas e unidades de conservação em comunidades amazônicas – Resultados de pesquisa e pós-graduação" teve a professora doutora Soeli Lemoine como debatedora. Participaram do painel os seguintes professores mestres: Klycia Vilhena, que falou sobre desafios e entraves da Educação Ambiental na gestão de uma unidade de conservação na Amazônia; Roble Tenório, com o trabalho "Perspectivas educacionais em unidades de conservação: A construção de saberes ambientais em uma reserva extrativista; Eliel Pompeu, argumentando sobre a construção da crítica da Educação Ambiental na reserva extrativista Ipaú – Anilzinho; e Eliton Araújo, que analisou a Educação Ambiental no entorno de reservas extrativistas marinhas, a partir dos olhares de atores locais da Resex-Mar, em Cuinarana, PA.
Às 16h, com a presença das jornalistas Úrsula Vidal e Ivana Oliveira e do deputado federal Arnaldo Jordy, aconteceu a mesa redonda que teve como tema "Educação Ambiental e mediação de conflitos socioambientais no cenário das políticas de desenvolvimento amazônico". Úrsula afirmou que a academia vive uma frustração contínua, ao perceber que existe um aprofundamento rico da realidade feito pelos pesquisadores, porém as políticas públicas avançam muito pouco baseadas nesse conhecimento acumulado. "São decisões políticas que desconsideram esses diagnósticos e essa realidade já tabulada e analisada que pode servir de base para um modelo de desenvolvimento mais humano, mais solidário, mais assertivo, com uma capacidade de enxergar o ciclo da natureza, que é uma grande escola", disse a jornalista. Para Úrsula, o que nós vivemos hoje no Pará é uma territorialização de oligarquias patriarcais que produzem práticas políticas extremamente ruins e não apresentam projetos que sejam de interesse da comunidade. Apesar disso, a Educação Ambiental é uma grande aliada à população, "A Educação Ambiental é a forma mais seminal da compreensão do meu papel no lugar onde eu vivo. Educação Ambiental não é algo que se ensina, é algo que está em você, se você tem um senso de pertencimento ao espaço em que você vive", declarou.
O segundo dia do Colóquio foi finalizado com uma apresentação do cantor Ronaldo Silva, do Instituto Arraial do Pavulagem.
Dia 27 – O terceiro e último dia do evento iniciou com a terceira mesa redonda, às 9h, nomeada "Gestão, educação e licenciamento ambiental: Os programas de Educação Ambiental nos grandes empreendimentos econômicos, de logística e infra-estrutura nos territórios amazônicos". O debatedor responsável pela mesa foi o professor doutor Cláudio Szlafsztein e os participantes foram: A professora doutora Marilena Loureiro, falando sobre a sua experiência no Programa de Educação Ambiental Portuária; a professora doutora Maria Ludetana Araújo, que dialogou sobre o Programa de Educação Ambiental para o asfaltamento da BR-230 (Trans-amazônia); e a professora doutora Ana Lídia Nascimento, que contou relatos do Programa de Educação Ambiental para o asfaltamento da BR-163 (Santarém – Cuiabá).
"20 anos de Educação Ambiental por entre escolas nas estradas, rios, portos e cidades – Resultados de pesquisa e pós-graduação" foi o tema do painel 3, às 11h, que teve a participação dos seguintes professores mestres: Claudionor Araújo, fazendo uma análise do caráter crítico e pragmático da Educação Ambiental; Antônio Silva Júnior, que fez um estudo dos riscos e desastres ambientais na Amazônia; Leônidas Veloso, discutindo sobre mineração em Juruti; Kelly Mafra, que realizou pesquisa do Programa de Educação Ambiental na Trans-amazônia, no município de Brasil Novo; Rejane Reis, com o trabalho "Educação Ambiental no Porto de Belém: Concepções práticas de gestão ambiental no dia-a-dia do porto"; e Hilário Vasconcelos, que explorou os desafios da política pública na gestão de conflitos socioambientais de empreendimentos graneleiros, falando sobre o caso do distrito de Miritituba - PA.
Em seguida, Daniel Caldeira, de 14 anos, mostrou como foi sua experiência no intercâmbio para os Estados Unidos em 2017, que ele conseguiu através das Olimpíadas do Projeto Life Line. O objetivo do projeto era conscientizar as crianças do Brasil e dos Estados Unidos, apresentando aspectos vitais para a preservação da água entre as duas Américas.
O Colóquio de encerramento teve como tema "Conversas, discussões, ciência, rezas, arte e poesias para adiar o fim do mundo", com a presença das professoras doutoras Marilena Loureiro, Ana Lídia Nascimento, Maria Ludetana Araújo, Soeli Lemoine, Denise Cardoso e dos professores doutores Marcos Reigota, Mauro Guimarães e Fernando Augusto Filho. "O GEAM caminhou, pensou e, principalmente, fez, formando pelo menos três gerações de professores, mestres e doutores preocupados com o meio ambiente e com o ser humano da Amazônia, priorizando não só a formação acadêmica dessas gerações, mas também a importância do exercício ético que deve nortear todas as nossas ações institucionais, seja como docentes, pesquisadores ou colegas que habitam o mesmo campo. O GEAM ao longo desses 20 anos de existência se tornou grande, ultrapassou o muro de concreto e o muro simbólico que separa a UFPA das comunidades em seu entorno. A grandeza desse grupo não está apenas em produzir conhecimento sobre a natureza e o homem amazônico, mas na generosidade com que esse conhecimento é compartilhado", afirmou Fernando Augusto Filho.
O evento terminou com um show do Mestre Pinduca e banda.
Texto: Organização do Evento.