Amazônia, Educação Ambiental e o fazer individual na contemporaneidade
O V Encontro Universidade em Diálogos Sustentáveis teve como tema "Teoria e Pesquisa em Meio Ambiente e Educação Ambiental na Amazônia" e comemorou os 18 anos do Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente (GEAM)
Quando pensamos na Amazônia, geralmente, associamos às questões geográficas, ecológicas e culturais da região e deixamos de lado as experiências particulares que cada indivíduo tem ao conhecer ou interagir com a região. Pensar a Amazônia que existe “em mim” foi uma das pautas do V Diálogos Sustentáveis.
“Acho que para além dos títulos da produtividade acadêmica, nos, pesquisadores da educação ambiental temos um histórico de militância por uma educação colaborativa que seja radicalmente popular. Este ano estamos comemorando a maioridade do GEAM em que pretendemos, cada vez mais, aproximar a universidade e a vida cotidiana, ampliando as discussões”, afirmou Marilena Loureiro, coordenadora do GEAM.
Estiveram presentes na mesa de abertura do Encontro o reitor da UFPA, Emannoel Tourinho, professor Dr. Rômulo Simões Angélico, pró-reitor de Pesquisa e Graduação (PROPESP); prof. Dr. Edmar Tavares da Costa, pró-reitor de Ensino e Graduação (PROEG); professor Dr. Carlos Miranda, representando a Secretaria de Educação do Estado, na pessoa da senhora Ana Claudia Hage; José Eduardo Martineli, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PROFCIAMB); professor Dr. Walter Silva Júnior, da Escola de Aplicação; Erivellton Moreira, secretário de Meio Ambiente do município de Igarapé-Açu; Maria Ludetana Araújo, pesquisadora e cofundadora do GEAM; e Marilena Loureiro, coordenadora do GEAM.
O evento teve como conferencista o professor Dr. Marcos Reigota, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Sorocaba.
“Tenho um agradecimento profundo e gostaria de dedicar minha fala aos estudantes secundaristas. Temos que ter em mente que as Redes de Educação Ambiental devem estar voltadas para a afetividade. Nosso trabalho tem a característica do testemunho. Não é a metodologia que temos que discutir é por que estamos fazendo isso”, afirmou Marcos Reigota.
Para Reigota, a contemporaneidade não vive mais uma luta essencialmente geográfica, mas sim a percepção do lugar de cada cidadão no mundo. Essa nova configuração acaba quebrando com algumas bases epistemológicas. “A nossa vida não está pautada apenas pela situação econômica, estamos falando daquilo que provoca, questiona a nossa existência. Se a gente ampliar a noção de direitos para além dos direitos humanos a noção de territorialidade começa a ser desconstruída”.
Nesse sentido, “a Amazônia em mim, que carrego, talvez seja a única que eu possa falar. Por isso, para uma pessoa falar que conhece a Amazônia é preciso ter muitas vidas. Você pode sentir a Amazônia e isso coloca em cheque a nossa própria existência”, disparou Reigota.
Outro aspecto abordado na conferência de abertura foi a dimensão política de cada ser social, em que “a rebeldia é importante, isso nos coloca em situação de embate, mas a educação não é isso? Temos a oportunidade de nos posicionar no mundo. Pode parecer velho discurso, mas é o discurso onde nos constituímos”. Além disso, falar de Educação Ambiental e posicionamento político na Amazônia “nos obriga a ser sinceros, nesse sentido, como um pensamento político não partidário sobrevive? O que é que nos uni? Para mim é a pedagogia freiriana que é a base da força do nosso argumento”, explicou Marcos Reigota.
Apesar de não gostar da linguagem bélica, o professor da Universidade de Sorocaba acredita que a sociedade está em luta, que deve enfrentar a redução dos direitos básicos adquiridos, nesse sentido, “a Educação Ambiental só será educação quando for para todos e todas, como proposta de construção de direitos”.
Após o intervalo do almoço alunos da Casa Escola da Pesca apresentaram o projeto “Trilhas Encantadas”, que ensina Educação Ambiental e o folclore amazônico através do contato com a natureza.
Painel I – Com o tema “Assentamentos dos Sentidos da Universidade em suas Relações com a Complexidade da Vida Amazônica, Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Ambiental na Trajetória do Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente – ênfase teórica e histórica” o painel contou com a presença de Marilena Loureiro; Ludetana Araújo; Alberto Costa e Pedro Baia Jr.
“Sujeitos históricos nesse processo inteiro, nossos alunos que vão compondo suas trajetórias e vão se transformando em sujeitos da vida. No campo do ensino, pesquisa e extensão a gente trabalha para que pessoas construam suas trajetórias”, explicou Marilena Loureiro.
Durante o Painel a professora Dra. Ludetana Araújo apresentou o contexto histórico de surgimento do GEAM, “no Pará a gente já trabalhou bastante. Nossa missão é fazer com que as pessoas entendam que a Educação Ambiental não tem fronteira, que estamos falando de conflito, de gente. Somos um grupo que gosta de sonhar”, disse.
Painel II – No período da tarde aconteceu o painel “Assentamentos dos sentidos da universidade em suas relações com a complexidade da vida amazônica. Pesquisa, ensino e extensão e a Educação Ambiental, cultura e Meio Ambiente ênfase na Educação Ambiental, empreendimentos Econômicos e Comunidades locais amazônicas”, com a presença dos professores Regiane Reis, Gracy Kelly, Kelly Mafra, Edza Assunção e Nicolau Rickman.
Esses professores-pesquisadores contaram o início da parceria com o GEAM e sobre os temas das pesquisas de mestrado, todas orientadas pela professora Marilena Loureiro.
Após o encerramento do Painel II, Margarida Azevedo, que por muitos anos foi gerente de Educação Ambiental da Companhia Docas do Pará (CDP) foi homenageada por seu trabalho e pela parceria com o GEAM, “durante esses anos de dedicação contei com pessoas muito sérias, que estão lá no exercício militante, acreditando que não é apenas cumprir protocolo. Sou muito grata pelas palavras de carinho”, afirmou, emocionada, Margarida. Em seguida teve apresentação do coral de crianças da Vila do Prata.
Painel III - No dia 13, pela manhã, Klycia de Souza Vilhena, Joniel Abreu, Etiene Lobato Leite, Joana Coltinho Barreto, Francisco Michael de Brito, Elana Gracielle e Dayse Costa contaram suas experiências acadêmicas e relataram desde quando e de que forma suas trajetórias fazem parte do Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente.
O professor Dr. Marcos Reigota ministro a conferencia de encerramento do V Encontro Universidade em Diálogos Sustentáveis que abordou o tema “O Futuro da Educação Ambiental brasileira num encontro coma lógica da cooperação norte/sul e sul/sul – quais perspectivas epistemológicas” em que apresentou casos de conexão entre pesquisadores do norte e do sul e sudeste do país.
O V Encontro Universidade em Diálogos Sustentáveis aconteceu nos dias 12 e 13 de dezembro, no auditório da Escola de Aplicação da UFPA, e faz parte das atividades do Projeto Universidade em Diálogos Sustentáveis: Quintas Ambientais, que tem como objetivo ampliar as discussões sobre a Política Ambiental Nacional e especialmente na Amazônia.
Texto: Lucila Vilar.